29 de junho de 2023.
Mestre Freud,
Como prometido, vou trazer as estruturas clínicas através do esquema L. Descobri, ao estudar Lacan, que a saída para a psicanálise não se fixar na “doxa” e poder trilhar o campo da “episteme” consiste em pensar os diversos sofrimentos psíquicos através do conceito de estrutura. Fiquei feliz com isso, porque me impressiona a quantidade de opiniões que se emitem acerca das aflições que atingem o psiquismo humano. Com Lacan aprendi que esses sofrimentos podem ser perfeitamente agrupados em três estruturas: a neurose, a perversão e a psicose. O que define, segundo Lacan, cada uma dessas estruturas no esquema L não é a questão sexual, mas a questão da linguagem, pois devemos prestar atenção no espaço ocupado pela lei em cada uma delas. Dito de outro modo, a estrutura envolve basicamente a relação do sujeito com a lei. Lacan afirma que “(...) a lei e o desejo recalcado são uma única e mesma coisa” (Lacan, Kant com Sade (1962), p.794). Podemos então dizer que, em cada estrutura, devemos observar a relação do sujeito com o seu desejo recalcado, o qual se mostra no discurso.
Vamos começar pela neurose, aflição psíquica bastante comum. No esquema L, o neurótico se localiza no grande A, na medida em que ele abraça o recalque e se torna fiel à lei. De modo que a prioridade não é o imaginário nem o real, mas o simbólico. O neurótico, em poucas palavras, procura satisfazer o grande A. “O meu marido me trata mal, mas cuida bem dos meus filhos e da casa”. Como não notar nessa frase um exemplo de neurose?
Já o perverso transita entre o simbólico e o imaginário, entre A e a. Ele não assume nenhum compromisso com a lei e se torna um desafio à lei. Podemos encontrar exemplos fartos de perversão em alguns aplicativos aplicativos de encontros, para quem se interessar em analisar alguns casos típicos. Por exemplo, homens casados anunciam em seus perfis: “Casado; no sigilo”.
Se na neurose e perversão o sujeito percorre o esquema L, na psicose o sujeito não sai de a-a’, a fase do narcisismo e do estádio do espelho. O sujeito fica preso na relação imaginária entre o eu e o pequeno outro. Não há para o sujeito psicótico S, o isso, e nem a intromissão do pai (A). Como perscrutar o desejo recalcado se não há inconsciente? O caso Schreber é exemplar a esse respeito.
Seu,
José O Barbalho