Meu amigo.
A resistência é um tema bastante discutido na psicanálise (falarei mais dela em outros momentos). Há aquela que antecede à análise, quando o sujeito resiste em procurar um analista. A pessoa pode chegar para você e dizer: “Eu e meu amigo fazemos análise um do outro”. Aqui vale uma reflexão.
É comum as pessoas conversarem entre si sobre a vida do outro. Nem sempre essas conversas são entre amigos. Por que conversam sobre o outro e não, sobre si mesmas? De todas as possíveis respostas para essa pergunta, quero chamar a atenção de uma: Quando alguém fala de si para o outro, a pessoa pode se submeter a um juízo que não é o dela. Porém, é muito difícil uma pessoa se distanciar de si mesma e autojulgar-se sozinha ou na companhia de alguém.
Em geral, o sujeito afirma que busca conhecer a si mesmo. Dificilmente diz que conhece a si mesmo. A busca do autoconhecimento pelo sujeito se encerra com a sua morte. Enquanto viver, ele constrói o seu caminho de autoconhecimento. O seu trajeto não é uma linha reta, não há atalhos e tem o seu tempo. Quando julga a si mesmo, o sujeito vacila, pensa duas vezes, faz mais perguntas e se cala. Quando julga o outro, ao contrário, ele é persuasivo, assevera e é vaidoso. Isso vale para qualquer sujeito, sem excluir os amigos. Logo, o sujeito e o seu amigo são dois cegos que acreditam ter encontrado a porta do céu, mas na verdade abriram a porta do inferno.
O sujeito diante do analista seria diferente? Sim e não. Sim, se o sujeito o procurar com a convicção de trazer à tona para si mesmo o seu inconsciente e estar aberto a questionar a imagem que ele formou de si mesmo. Não, se o sujeito vê o analista como um guru, guia espiritual, filósofo, cientista ou...um amigo.