24 de outubro de 2022.
Freud,
Na carta anterior mencionei de algum modo o narcisismo. Como ilustração, usei a experiência da academia. Nesta carta, vou me referir ao salão de beleza. Na verdade, vou usar os dois, academia e salão de beleza, para tratar de um outro assunto não menos difícil: o Édipo que mora em cada um de nós. Não vou contar a sua história, coisa que já sabemos. Vou me deter apenas no seguinte aspecto dessa história. O Falo, sabemos, representa a potência. Não é por acaso que ele se confunde com o pênis. “Eu tenho o pênis e você, não”; “Eu tenho a força”, como dizia um personagem de desenho animado. “Se eu perdê-lo, o que será de mim?” Pergunta quem acredita tê-lo.
Mas alguém poderia afirmar o contrário: “Eu não tenho o pênis; o que será de mim?”. Nessas expressões há algo que chama a nossa atenção: a relação do sujeito com o Falo. A academia e o salão de beleza ilustram maravilhosamente bem essa relação. Tanto o homem como a mulher frequentam os dois espaços. No caso da academia, reina não o ser belo, mas o ser forte; no salão de beleza, o contrário. Cultivar o corpo é uma atividade na qual se destaca aquela frase do personagem de desenho animado: “Eu tenho a força”. Porém, isso deve ser dito num corpo bem delineado, portanto, belo. No caso do salão, fazemos as unhas, cortamos o cabelo, cuidamos do nosso corpo para ficarmos bonitos. Cultivar a beleza implica também disciplina. Não podemos ir ao salão apenas uma vez por ano. Se não podemos ir nele, nós o criamos em casa.
O fato é que a beleza importa, pois o Falo é sedutor. O Falo causa admiração e atração. O homem, por acreditar tê-lo, deseja possuir o outro. Para isso, ele precisa demonstrar ser mais forte que belo. Todo homem é Ares. A academia é o espaço de Ares. A mulher, ao perceber que não o tem, deseja ser possuída pelo outro. Para tanto, a mulher encontra vantagem na beleza. Toda mulher é Afrodite. O salão é o espaço de Afrodite. Para encerrar, lembremo-nos que Eros é o filho da relação de Ares com Afrodite. Portanto, a vida é o espaço de Eros.
Seu,
José O Barbalho