O pôr do sol

Quando aparece o pôr do sol, o sujeito pode se ver triste ou alegre, ou na alternância de ambos. O dia foi duro, mas “produtivo”; em consequência, o sujeito se alegra. Nesse mesmo dia duro e “produtivo”, o próprio sujeito teve que tomar uma decisão difícil no trabalho; daí lhe advém a tristeza. Pode uma das duas ser dominante.

Digamos que seja a alegria. O sujeito sente-se bem. Move-se na sua casa convicto que enfrentou como Ulisses os desafios do dia. Sente-se com disposição para encarar as tarefas que hão de surgir no dia seguinte. A noite se torna leve ao término do pôr do sol. Céu nublado ou estrelado, pouco importa. O sujeito sente-se afortunado. Tão afortunado que, quando se senta no sofá, não percebe o costumeiro movimento ininterrupto de uma de suas pernas. O que está por trás desses movimentos?

Vamos supor que domine a tristeza. O sujeito sente-se mal. Não se esquece do que havia feito, por menos dolorido que tenha sido. Vem a noite e ela lhe aparece mais escura que a sua casa sem luz. Se o céu está nublado, aumenta a sua aflição. Se o céu está estrelado, não serve de alívio para a sua amargura. A angústia o apavora. Aqueles movimentos de uma de suas pernas se aceleram mais ainda quando se senta no sofá. Nada o conforta. Dorme. Acorda no dia seguinte e sua vida continua como se nada tivesse acontecido naquele pôr do sol.

Vale notar as aspas em ‘produtivo’. Que o leitor tire as suas próprias conclusões sem deixar de levar em consideração essas aspas.