Nem a fala nem o silêncio.

Há casos interessantes de pessoas que têm dificuldade em evacuar suas fezes. Quando isso ocorre, elas se dirigem ao banheiro com alguma coisa que lhes é prazerosa. Pode ser, por exemplo, o celular. Elas entram na internet em busca de algo que lhes dê prazer imediato e com isso poderem evacuar rapidamente aquilo que havia sido represado por muito tempo.

Isso nos chama a atenção. Digamos que P seja o caso. P sentiu prazer de algum modo em reter as fezes. Mas chega um momento em que se faz necessário sua evacuação. Na verdade, há uma mistura de prazer e dor. Chamemos essa mescla de gozo. Portanto, P goza com a repleção. Um dos expedientes para esse gozo é, no caso de P, encontrar algo na internet que lhe sirva como seu clímax no plano da consciência. Pode ser, por exemplo, a compra de uma passagem de avião.

O fato, porém, é que o inconsciente havia operado na repleção e evacuação. O bilhete pode representar algo que ocorreu na infância e deixou em P marcas indeléveis. O que P sabe é que o bilhete o auxiliou na evacuação. O que P não sabe é que, por trás desse bilhete, há uma história, um pretérito presente, que não foi devidamente analisado.

Isso pode se refletir nas sessões de análise de P, supondo-se que ele tem uma analista. Se P fala ininterruptamente, sem dificuldade, nas sessões, isso pode indicar que a repleção não é a questão, mas, sim, a evacuação. Dito de outro modo, o que P faz em casa se reproduz na clínica no sentido de sanar logo o desconforto não só físico, mas também psíquico. Para essa situação nos vem à mente a pergunta de Fausto, de Goethe: “De que nos serve encurtar a nossa rota?”. Pode ser o caso de P apressar o seu tratamento.

Por outro lado, se P fica calado com frequência, pouco fala nas sessões, isso pode significar que a questão se encontra na repleção. Diz a sabedoria popular: “Os costumes de casa vão à praça”. Assim como P “segura” o máximo possível aquilo que deve ser colocado para fora, ele procura nas sessões adiar tanto quanto possível a solução dos seus sofrimentos psíquicos. Não se trata, portanto, de encurtar a rota, mas de galgar o seu trajeto com seus labirintos e suas encruzilhadas.

Portanto, quer P fale quer fique em silêncio, ele faz análise à medida que entra em análise.