Um de vários.

 Vi um vídeo na internet sobre autoconhecimento. Um de vários. Ele me fez pensar sobre algumas coisas que fiz e espero não fazer mais. Quando vejo as pessoas a ensinar o que nos tornam pessoas tranquilas, eu me perguntei: por que não nos abrimos para a escuta? Não a escuta de alguém a dizer para nós o caminho das pedras da felicidade. Esse tipo de escuta nos impede de entrarmos em nós mesmos. Ela nos prende a um saber que pode fazer sentido nesse ou naquele momento. Cria a ilusão de que foi através dele que encontramos a verdade de nós mesmos. É uma ilusão, porque a verdade de cada um está de fato nele mesmo, porém, para chegar nela, o caminho não é curto nem reto; não é simplesmente o trajeto para a livraria ou a internet. É um outro tipo de trajeto.

Denomino o trajeto da escuta. Difere do trajeto do saber. Este nos é cômodo, principalmente se for “de fácil acesso”. Aquele exige, na porta de sua entrada, a disposição para penetrar no mais profundo de nós mesmos, cujo acesso está longe de ser fácil. Se Platão colocou na porta da entrada de sua escola “Só entra aqui quem sabe matemática”, essa sua atitude retrata muito bem o trajeto do saber, pois, nesse caso, você se volta para si mesmo a partir de um saber previamente adquirido (a “matemática”). No trajeto da escuta, ao contrário, não se exige nenhum pré-requisito em matéria de conhecimento.

Logo, não vou mais ensinar para os meus familiares, amigos ou alunos o que acredito ser o caminho das pedras da felicidade. Não vou enviar “pensamentos” acreditando que estou ajudando a pessoa a se encontrar consigo mesmo. Espero não ser para ninguém, próximo ou distante, aquele saber prévio que o divino Platão estampou na porta da entrada de sua escola. Eu me decidi pelo trajeto da escuta e abandonei o do saber.